Em um cenário global desafiador o real brasileiro se viu em uma posição nada invejável, se vende a moeda com pior performance entre os países emergentes em 2024. Para entender essa desvalorização, é preciso analisar um conjunto de fatores que se entrelaçam, desde a política monetária dos Estados Unidos até questões internas brasileiras.
No centro dessa história está o dólar americano, que se fortaleceu consideravelmente no ano atual. As taxas de juros mais altas nos EUA, impulsionadas pelo Federal Reserve para combater a inflação, tornaram o país um destino mais atraente para investimentos. Essa busca por rendimentos mais altos levou a uma fuga de capitais de mercados emergentes como o Brasil, pressionando o real para baixo.
Enquanto o cenário externo já era desfavorável, o Brasil enfrentava seus próprios demônios. A percepção de risco no país aumentou, com o índice CDS (Credit Default Swap) atingindo seu maior valor do ano. Essa desconfiança foi alimentada por fatores como a mudança na meta fiscal, a troca na presidência da Petrobras e declarações do presidente que geraram incertezas no mercado.
Além disso, a inflação persistente no cenário brasileiro, ainda que em patamares menores que no início do ano, contribuiu para a desvalorização do real. A inflação corrói o poder de compra da moeda e torna os investimentos em renda fixa brasileira menos atraentes, em comparação com países onde a inflação está mais controlada.
Para completar o quadro desafiador, o recente enfraquecimento das commodities, como o petróleo e o minério de ferro, também pesou sobre o real. Com os preços desses produtos em queda, a balança comercial brasileira, que depende fortemente das exportações de commodities, é afetada negativamente, diminuindo a entrada de dólares no país e, consequentemente, pressionando o valor da moeda.
É interessante notar que, mesmo com a desvalorização do real, a moeda brasileira se aproximou do peso argentino em termos de performance. Isso se deve, em parte, à decisão do FMI de elevar o juro real na Argentina, algo que não era visto há algum tempo. Essa medida, embora arriscada, pode ter ajudado a estabilizar a moeda argentina, diminuindo a diferença em relação ao real.
A desvalorização da moeda brasileira em 2024 é um reflexo de um cenário global e interno complexo. A política monetária dos EUA, o risco fiscal, a instabilidade política e a inflação no Brasil, além da queda das commodities, são apenas alguns dos fatores que contribuíram para esse resultado.
Para reverter essa situação, o Brasil precisa lidar com seus desafios internos de forma mais eficaz, transmitindo confiança ao mercado e atraindo investimentos. Ao mesmo tempo, é necessário acompanhar de perto a dinâmica global e se adaptar às mudanças no cenário internacional. O caminho para a recuperação não será fácil, mas com medidas consistentes e uma gestão responsável da economia, o país pode voltar a ter uma moeda forte e competitiva no mercado global.